Ecologia

<i>Pontes de Mudança: Sociedades Sustentáveis e Solidárias</i>

Sofia Vilarigues e Edgar Silva

Image 7030

«O FMI, que ganhou a sua dinâmica actual na década de 1980, pressiona reformas económicas semelhantes às do BM [Banco Mundial] através de empréstimos de emergência, é acusado pelo IFG [International Forum on Globalization] e o Institute for Policy Studies de, com o BM, levar ao colapso económico da Argentina. Nos anos 1990, promoveu a liberalização do comércio, a privatização de todos os serviços públicos e a vinculação do valor da moeda ao dólar. As variações deste, que não decorriam da economia da Argentina, repercutiam-se no país, que acabou por ser afectado perdendo competitividade nas exportações. Houve uma elevada desnacionalização do tecido económico argentino. Os fundos que entravam para o Estado através da Segurança Social declinaram com a privatização destes serviços. Os serviços de saúde foram afectados. Os bancos argentinos foram vendidos a firmas estrangeiras, que cortaram nos empréstimos a pequenas e médias empresas. Em 2001 deu-se o colapso económico.»

Soa familiar?

Estes acontecimentos na Argentina, um dos casos referidos e analisados no livro «Pontes de Mudança: Sociedades Sustentáveis e Solidárias», são paradigmáticos do tipo de globalização que se tem vindo a implementar e que podemos observar também no nosso País.

Uma globalização económica, que é insustentável em termos ambientais e sociais – não tem em conta a interligação estreita entre a humanidade e o ambiente natural (que formam um todo) e menospreza dinâmicas sociais (não dá resposta às necessidades básicas de cada ser humano, nem às suas necessidades de realização) –, por assentar num modelo redutor de crescimento financeiro.

Em «Pontes de Mudança: Sociedades Sustentáveis e Solidárias» avaliámos que nos encontramos num ponto de ruptura que é, também, um ponto de bifurcação. A nossa sociedade decai, nas armadilhas da crise actual, ou emerge em novas formas de ordem. São necessárias mudanças, que se esboçam, a pensar e implementar. Defendemos, nesta perspectiva, uma outra globalização capaz de dar origem a sociedades sustentáveis e solidárias.

 

Image 7029

Pontes sistémicas


A principal ideia do livro é a ideia de pontes. Pontes que se fazem necessárias para esta mudança. Pontes entre perspectivas ambientais e sociais, entre teorias e práticas, entre micro e macro transformações.

Numa análise sistémica (considerando ecossistemas e sistemas sociais, etc.), apontamos diversas ideias e práticas ao nível de fluxos (financeiros, de recursos e informação); de organização (quanto a instituições, redes e capacitação e direitos) e consciência e ética planetária.

Para as novas formas de ordem social que defendemos, apontamos a necessidade de:

- haver percepção presente das interdependências óbvias entre ecossistemas-sociedades-indivíduos;

- mudar o foco da teoria-acção do desenvolvimento e crescimento para o dos sistemas em interdependência e evolução;

- criar a mudança aqui e agora (e não apenas para um futuro a que se chega com os vícios do passado);

- haver percepção de que a mudança é criada por vários actores (do indivíduo à organização social ao âmbito planetário), em micro e macro transformações, em interacção;

- haver percepção de que a mudança se gera em vários sistemas (organização social e tecnosfera, ecossistemas, esferas cultural e mental, …), que constituem redes (com as suas dinâmicas características);

- potenciar que a mudança seja de expansão/realização, multidimensional (desde a economia à ecologia, à cultura, à informação e à tecnologia);

- considerar a vida e a diversidade e portanto uma mudança ética;

- ter presente a essencial emergência de novas formas de organização e maior complexidade (de organização e comunicação, maior eficiência energética transformadora e de informação).

- apostar na orientação actual, possível, de sociedades sustentáveis e solidárias (na acção ao nível de organização, fluxos, consciência).

Nesta perspectiva, recorde-se que Lester Brown (fundador do WWI – World Watch Institute) definiu, em 1981, sociedade sustentável como aquela que satisfaz as suas necessidades sem diminuir as possibilidades das gerações futuras de satisfazer as delas. Só depois surgiu a noção de desenvolvimento sustentável como «o desenvolvimento que dê resposta às necessidade do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras darem resposta às delas», pela Comissão Mundial do Ambiente e do Desenvolvimento (WCED), no conhecido «O Nosso Futuro Comum», em 1987.

__________________

«Pontes de Mudança: Sociedades Sustentáveis e Solidárias» é o primeiro título da colecção Ecologia Profunda da Antagonista Editora. Abrangendo uma análise global e, também, da realidade portuguesa, o livro está organizado em duas partes. Uma primeira, de análise do ponto de ruptura em que nos encontramos. E, uma segunda parte, introduzindo as teorias e práticas entre as quais defendemos pontes, de acordo com uma perspectiva sistémica, «Por um Mundo Diferente». Mais informação em (http://eco-fenix.blogspot.com/).



Mais artigos de: Temas

Substituir as importações pela produção nacional

O governo promoveu, recentemente, uma iniciativa eminentemente propagandista, envolvendo empresas exportadoras. Tal iniciativa foi levada a cabo com o pretexto de fomentar a venda de bens e serviços no estrangeiro e, por essa via, contribuir para a diminuição do défice da balança comercial. Embora, de concreto, pouco tivesse sido avançado não há nada a dizer contra tal iniciativa, salvo no que diz respeito à demagógica intervenção no encerramento dos trabalhos por parte desse liliputiano político que dá pelo nome de José Sócrates.

Banca acumula lucros e reduz impostos

Nas últimas semanas têm vindo a ser divulgados os resultados obtidos em 2010 pelos maiores grupos económicos nacionais, entre os quais se destacam os quatro principais bancos privados (BES, BCP, Santander Totta e BPI).